IFÁ feat Lazzo Matumbi

Show
18/11
A partir de 20h
Pavilhão de Aulas do Cecult
Aberto ao público
Surgida em meados de 2013, em Salvador, a banda IFÁ sempre sintonizou sua criação musical com as referências das tradições sonoras do Atlântico Negro que moldam a música brasileira no mundo. Ancorada originalmente na música instrumental, o IFÁ é um dos grupos responsáveis pela renovação da música baiana no Brasil contemporâneo, destacando-se pela mistura entre elementos afrobrasileiros e as novas tendências sonoras que povoam a cidade de Salvador. A busca pela história dos povos africanos e seus descendentes é uma das fontes de inspiração para o trabalho artístico da IFÁ. Esse movimento tem como herança a produção estética, musical e política que vem sendo pautada pelas agremiações carnavalescas negras desde fins do século XIX e mais profundamente na segunda metade do século XX, especialmente com o surgimento dos blocos afro em meados dos anos 1970 na Bahia.
Dentro desses espaços, houve uma criativa renovação dos sentidos de pertencimento e identidade que mudaram a forma de (se) ver e ouvir do povo brasileiro até os dias atuais. No interior das transformações ao redor do mundo nas últimas décadas, sejam as lutas por direitos civis nas Américas, sejam as novas pautas sociais colocadas pelas mulheres, sejam as guerras de descolonização nos continentes africano e asiático, surgiram novos gêneros musicais muito fortes na atualidade.
No coração de novas páginas na história da música estão artistas/protagonistas, mestras e mestres de uma tradição ancestral cuja obra é fundamental e indispensável de ser conhecida, lida, ouvida, sentida… Entre esses nomes, uma das mais importantes referências no Brasil é o cantor e compositor Lazzo Matumbi. Guardião de uma voz inconfundível, este soteropolitano nasceu e cresceu em meio ao som dos atabaques que ecoavam madrugada afora nas noites da cidade da Bahia em tempos onde a liberdade religiosa era um sonho a ser conquistado. Da mesma janela da vida, presenciou as transformações de uma paisagem urbana que transpirava música em todos os sentidos: em suas memórias, Lazzo guarda a presença dos vendedores urbanos que entoavam suas mercadorias com canções ouvidas quarteirões de distância, muitas já perdidas no esquecimento. Um veterano com 65 anos, Lazzo é um dos artistas que participaram ativamente do movimento dos blocos de samba que explodiram quase meio século atrás, embalando todas as idades num movimento que posteriormente se tornaria os blocos de índio e em seguida a reafricanização dos blocos afro. Por isso, foi um dos primeiros e mais importantes cantores do Bloco Afro Ilê Aiyê, trazendo uma característica vocal que até os dias atuais marca esse movimento artístico. Sintonizado com as novas ondas do rádio, Lazzo aprendeu a ouvir e a cantar de tudo. Por conta disso, é um dos primeiros artistas a traduzir o reggae para a música brasileira, com a gravação do compacto “Salve a Jamaica”, um pioneiro na produção deste estilo no sul da América. Começa sua carreira solo ainda em fins dos anos 1970 e muito rapidamente sua música e interpretação vocal o fizeram ganhar o mundo. Como resultado de grandes parceiras, Lazzo é autor de uma discografia cujos sucessos embalaram o imaginário brasileiro com canções como “Alegria da Cidade” (Lazzo), “Do jeito que seu nego gosta” (Lazzo/Zelito Miranda) e “Me abraça e me beija (Lazzo/Gileno Félix), que teve versões antológicas com Margareth Menezes, Gilberto Gil e o pop star jamaicano Jimmy Cliff. Com Jimmy Cliff, Lazzo conheceu todos os continentes, compondo sua big band em tour internacional durante muitos anos, além de ter vivido na Jamaica, onde aprofundou ainda mais sua relação com o reggae. Por tudo, Lazzo é uma das maiores sínteses do conceito deste projeto além de uma das maiores referências da música na Bahia, no Brasil.
O show do IFÁ no Paisagem Sonora 2022 trará Lazzo Matumbi como convidado, num encontro entre duas gerações da música negra da Bahia, viventes do mesmo barco sonoro. Um momento de reverência à ancestralidade, onde o presente é tempo de celebração e dos passos caminhados pelas gerações anteriores e seus efeitos nas escolhas de agora, numa experiência mediada pela música: uma arte dotada da particular capacidade de atualizar o presente e presentificar o passado. Nesse espetáculo, além do repertório do IFÁ, serão apresentadas releituras de clássicos da discografia de Lazzo.